Mídias alternativas da nova direita e poderes constituídos: representações discursivas sobre democracia e independência entre poderes
A pesquisa intitulada “Mídias alternativas da nova direita e poderes constituídos: representações discursivas sobre democracia e independência entre poderes” possui financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), tendo sido contemplada no último edital CNPq/Universal (Chamada CNPq/MCTI/FNDCT Nº 18/2021 – Faixa A) e propõe-se a investigar os discursos de youtubers da nova direita sobre as instituições e poderes constituídos, no período compreendido entre 2019 e 2022.
Toda uma gama de novas forças políticas surgiu, nos últimos anos, e começaram a circular fora dos canais tradicionais da mídia. Em regra esses discursos iniciam sua circulação por vídeos postados nos canais desses grupos e em seguida são replicados em diferentes redes sociais (facebook, whatsapp, instagram etc) e fortalecem a construção de um discurso alinhado a ideias de desconfiança e ruptura institucional. A propagação desses discursos gera resistências aos atos dos ministros da Suprema Corte e de congressistas, tensionando as instituições democráticas.
O número de manifestações pelo fechamento das instituições se intensificou a partir de 2019, podendo se perceber uma disputa discursiva entre os agentes políticos e/ou jurídicos e os youtubers da nova direita em torno de conceitos como: democracia, golpe, intervenção militar constitucional, separação de poderes, liberdade de expressão etc. Desta maneira a questão que surge para ser discutida na pesquisa é: quais as representações discursivas e os direcionamentos ideológicos dos youtubers da nova direita sobre os poderes democraticamente instituídos, bem como quais as práticas sociais destes grupos contra os poderes constitucionalmente estabelecidos?
Para dar conta deste questionamento, têm-se como objetivos: compreender as representações discursivas utilizadas para fomentar as manifestações contra os poderes constituídos; analisar as representações discursivas sobre os poderes instituídos; e identificar as respostas das instituições às práticas sociais de ataque aos poderes constituídos. Para dar conta desse escopo, utilizar-se-á o referencial teórico e metodológico da Análise de Discurso Crítica (FAIRCLOUGH, 1999, 2003, 2008) para, por meio de uma investigação discursiva, evidenciar a construção dos sentidos da mídia da nova direita sobre os poderes constituídos, identificando os direcionamentos ideológicos, as práticas sociais e as relações de poder entre esses atores. Por fim, busca-se com essa investigação contribuir para a compreensão dos tensionamentos sociais entre os poderes constituídos a partir das mídias de nova direita.
O projeto tem como metodologia central (mas não única) a Análise de Discurso Crítica na vertente de Norman Fairclough. A Análise de Discurso Crítica percebe, por meio dos discursos, textos e práticas como as relações de poder e a ideologia fomentam a reprodução ou modificação da sociedade, pois os discursos não são analisados apartados do social, de suas estruturas, práticas e eventos. Os textos e as práticas discursivas podem tanto reproduzir o discurso hegemônico, quanto alterá-lo. Por conseguinte, o poder de um grupo sobre as demais não é fixo e estável, é alcançado sempre de modo parcial e temporário. O corpus de análise já está em parte construído, constituindo-se de programas do canal “Terça Livre” do youtuber Alan dos Santos (material já selecionado e arquivado); programas do “Pingos nos is”, programas “Vista Pátria” e programas do “Te atualizei”. Serão selecionados os programas que se refiram aos poderes constituídos a fim de verificar os discursos, as representações e seus direcionamentos ideológicos. A escolha desses canais do youtube se justifica em razão deles serem os principais produtores de conteúdo, todos possuindo mais de 1 milhão de seguidores.
Assim, a nova direita, por meio de youtubers, representa as decisões judiciais ou legislativas de modo a fomentar discursos de resistência ou dúvida as instituições democráticas, contribuindo com práticas sociais de enfrentamento ao Supremo Tribunal Federal e ao Congresso Nacional, prejudicando o diálogo entre os poderes e tensionando a qualidade do próprio Estado Democrático de Direito. Este é um escopo novo para o Direito e, especificamente, para a sociologia jurídica. Esta pesquisa, busca, deste modo, suprir uma lacuna, nos estudos nacionais, sobre a relação da nova direita com os poderes constitucionais.
